A utilização de plataformas de gestão aprendizagem (Learn Mannagement System) nas escolas portuguesas tem vindo a generalizar-se de uma forma crescente, com especial relevância para a plataforma Moodle.
A esta opção não terá sido alheio o facto de a nível institucional, através da equipa do CRIE ( Computadores, Redes e Internet nas Escolas, actual ERTE-PTE) ter sido implementado como veículo privilegiado de divulgação de informação e iniciativas institucionais e para prestar apoio a uma comunidade que se pretendia criar, promover e dinamizar, em torno da criação de figura dos coordenadores TIC nas Escolas. Os Centros de Competência que tinham como função seguir acompanhar os Planos TIC das Escolas, de novo, através dos seus coordenadores TIC, adoptaram-na também para os mesmos fins, as acções de formação sobre a sua utilização multiplicaram-se e os Centros de Formação passaram a utilizá-la nas diversas regularmente. Institucionalmente, passou a ser disponibilizado espaço de alojamento gratuito para as Plataformas Moodle das Escolas, quer através dos Centros de Competência quer através da FCCN. Estavam assim criadas as condições determinantes para a adopção por parte das Escolas, desta Plataforma e não de uma qualquer outra.
As razões desta “escolha institucional”, largamente explicitadas aquando da divulgação da plataforma e das acções de formação subsequentes, prenderam-se com o facto de a plataforma Moodle ser:
· de utilização gratuita , integrar ferramentas de interacção síncrona e assíncrona (fóruns, chats, wikis e e-mails) possibilitando a proposta de assuntos para discussão, a resposta a questões formuladas, a publicação armazenamento e organização de recursos e documentos relevantes para as práticas dos professores, ser de acesso comum e fácil partilha e com espaço para o surgir de comunidades de prática e tendências, de carácter mais ou menos espontâneo, cujos membros encontram sentido, pertença e identificação em torno de interesses comuns e de projectos colaborativos, geradores de reportórios colectivos;
· simples de utilizar, replicando as suas funcionalidades muitas das interacções sociais de conversação permitidas por outras tecnologias (e-mail, Chat, Fórum e Wikis) mais recorrentemente utilizadas por uma comunidade profissional maioritariamente caracterizada pela fraca proficiência na utilização das TIC e, apesar de pontuais projectos inovadores, apresentando inúmeras resistências à sua introdução, quer a nível administrativo de gestão de práticas e processos quer, e com muito maior relevo, em contextos de aprendizagem.
· ser de código aberto o que permitiria transformações e desenvolvimentos evolutivos das suas funcionalidades adaptando-a às necessidades previsíveis decorrentes da sua utilização pelos professores (processo verificado por exemplo na criação da funcionalidade do e-portfolio.)
Verificou-se pois, na escolha da plataforma Moodle, a ponderação em torno de pelo menos menos três dos quatro princípios de design enunciado por Wenguer (…), comuns a qualquer outra tecnologia, para qualquer outro propósito, mas essenciais quando se trata de prover a especificidade da natureza particular que é a das comunidades de prática, no caso dos professores, que agora analisamos, dispersa e emergente:
· Design para a simplicidade de utilização e aprendizagem uma vez que nem a comunidade nem a própria tecnologia se constituem como prioridades centrais e como tal as dificuldades de aprendizagem e utilização rapidamente criam resistências desencorajam a participação.
· Design para a evolução já que as comunidades tendem a alterar-se e a criar novas necessidades que a tecnologia deverá ser capaz de acompanhar.
· Design para a assessibilidade utilizando ferramentas de comunicação e utilização próximas das usualmente utilizadas pelos seus membros.
· Esperava-se que a dinamização de grupos específicos em torno da Plataforma Moodle de carácter mais permanente ( os coordenadores TIC) ou transitório (professores em formação), conduziria à multiplicação da experiência, pela adopção e implementação da Plataforma pelas próprias Escolas.
Tal foi tem vindo a acontecer , a ritmos diferentes, nas diferentes escolas, mas com uma tendência que me parece muito clara mais no sentido de apropriação por parte dos professores com o objectivo de reforçar processos de ensino/aprendizagem, mais do que constituir-se como o fermento e a ferramenta mediadora de comunidades de prática.
É verdade que a Plataforma Moodle, tal como outras tecnologias similares, expande, ultrapassando limites de tempo e espaço, as possibilidades de interacção, de discussão, reflexão e partilha de experiências e materiais, mas utilizando as palavras de (Schwier, 2002, citado em Dias, ) “o ambiente virtual suportado pelas práticas de comunicação em rede, apesar de apresentar uma expansão dos limites da interacção presencial, não é necessariamente uma comunidade de aprendizagem” .
Para que isso aconteça, ainda segundo Wenguer (1998), é necessário que se verifiquem três dimensões interactuantes, a do compromisso mútuo, de empreendimento conjunto e de construção de um reportório partilhado, indispensáveis quando se fala de comunidades de prática Parece-me pois haver um longo caminho a percorrer, pelos comunidades de professores da maioria das escolas no sentido de se reunirem em torno de problemáticas ou temáticas de interesse comum, trabalhando colaborativamente e de uma forma contínua, no desenvolver de perícias ou aprofundar de conhecimentos uma vez, que são exactamente o domínio (de interesses comuns) de uma comunidade (espaço de aprendizagem) traduzido numa prática conjunta ( de produção de conhecimento organizado) que gerando coesão interna e conferindo coerência, operam a sua transformação em comunidades de prática (Wenguer et all, 2002).
Do que tenho podido observar, caminho maior ainda a percorrer, espera os professores que, procurando ultrapassar os constrangimentos do espaço físico e temporal entre as três identidades presentes na sala de aula, professor, aluno e conteúdo, procuram utilizar a plataforma Moodle, como extensão do seu papel de mediação.
Pelas razões já referidas, não basta a intencionalidade da criação de disciplinas, fóruns temáticos e wikis ou de disponibilização de materiais na Plataforma Moodle, para criar comunidades de prática e aprendizagem. Antes se assiste, na maioria dos casos, ao replicar de práticas tradicionais centradas no professor, que transmite conteúdos, que estrutura percursos linearmente convergentes e formula perguntas esperando respostas pré-definidas, Mesmo tendo em conta que a integração de novas tecnologias em contextos de aprendizagem, aponta para um faseamento em que de início a tecnologia apoia as práticas pedagógicas existentes, em seguida as ampliam e só numa terceira fase, com a familiaridade e a confiança, se assiste a uma transformação gradual da pedagogia na medida em que o professor descobre o que esta efectivamente tem para oferecer, há que não perder de vista a necessidade de evoluir no sentido do envolvimento individual e colectivo dos alunos nos processos, através da negociação permanente de objectivos e actividades, única via conducente a uma apropriação efectiva dos contextos de participação, de partilha e de construção colaborativa das aprendizagens. Trata-se no fundo de, recorrendo às práticas conversasionais e de interacção disponibilizadas pela plataforma, fazer de cada aluno um participante activo, que elabora narrativas individuais, que se confronta com a multiplicidade de perspectivas, que colabora na construção do reportório colectivo, identificando-se com a prática ao mesmo tempo que estrutura e afirma a sua identidaade, potenciando-se assim, a natureza social e situada de toda a aprendizagem e reforçando-se através da mediação colaborativa, os processos cognitivos.
Referências
Bidarra, J.(2007) - E-Conteúdos e Ambientes de Aprendizagem
http://e-repository.tecminho.uminho.pt/bitstream/10188/68/1/E-Conte%C3%BAdos+e+Ambientes+de+Aprendizagem.pdf
Dias, P. (2007)- Contextos de Aprendizagem e Mediação Colaborativa –http://erepository.tecminho.uminho.pt/bitstream/10188/65/6/Contextos+de+Aprendizagem+e+Media%C3%A7%C3%A3o+Colaborativa.pdf
Dias, P. (2008) Da e-moderação à mediação colaborativa nas comunidades de aprendizagem Educação, Formação & Tecnologias, vol. 1 (1), Abril 2008, http://cie.fc.ul.pt/seminarioscie/Conferencia_e-moderacao/paulo_dias_2008.pdf
Wenger, E.; White, N.; Smith, J. D.; Rowe, K. (2005) Technology for communities, CEFRIO Book Chapter
Wenger, E.(1998). Communities of Practice
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